quarta-feira, 27 de junho de 2012

Do Estoril para o Mundo

Do Estoril para o Mundo
18:45 por António Pedro Barreiro

Termina hoje a XX edição do Estoril Political Forum, um ciclo de colóquios e debates que, durante 3 dias, trouxe ao Estoril uma luxuosa panóplia de oradores que primaram simultaneamente pela eloquência e pela qualidade científica.
Durante três dias, os participantes nesta iniciativa tiveram a possibilidade de debater temas fulcrais para a actualidade nacional, a questão europeia e o panorama político mundial com convidados como António Borges, Guilherme d'Oliveira Martins, Martim Avillez Figueiredo, José Manuel Fernandes, André Azevedo Alves, Miguel Morgado, António José Seguro, Lord Raymond Plant, Anthony O'Hear, Paul Flather e Celia Sandys, neta de Winston Churchill.
As fortes e vincadas opiniões manifestadas por estes e outros oradores marcaram indubitavelmente esta edição do Estoril Political Forum, provando que, também em Portugal, é possível discutir estes temas com a seriedade que implicam e a profundidade que os reveste. Atrevo-me a afirmar que, durante estes 3 dias, no Estoril, conseguimos chegar ao cerne de muitos dos problemas que afectam o nosso quotidiano e que foram traçadas algumas hipotéticas soluções de futuro que permitam alcançar uma sociedade mais tolerante e mais aberta, segundo as teorias políticas preconizadas por Karl Popper.
Contudo, não obstante o profundo contributo desta iniciativa para a formação pessoal dos participantes, o que se debateu no Estoril durante estes três dias só terá um verdadeiro impacto na nossa sociedade se esta estiver disposta a tomar parte nesta discussão. A precariedade da situação nacional, a incerteza da cena europeia e os desafios da actualidade global exigem dos cidadãos um envolvimento activo e comprometido num debate alargado que permita traçar alternativas de futuro, eventualmente baseadas nas ideias popperianas.
De resto, não obstante a importância do que debatemos, parecem-me especialmente relevantes as homenagens que foram dirigidas às virtudes de figuras como Churchill, Adenauer, Monsenhor João Evangelista e D. Jaime Gonçalves, Bispo da Beira (Moçambique), que constituíram uma autêntica nota de esperança na capacidade do ser humano para se reinventar e revelar a sua melhor faceta perante às dificuldades. Oxalá os Portugueses o consigam fazer...

Censura da Moção

Censura da Moção
13:36 por António Pedro Barreiro

Não e segredo para ninguém que vivemos numa época em que grande parte dos cidadãos nutre uma considerável desconfiança acerca da democracia.
Responsável pelas elevadas taxas de abstenção, este sentimento generalizado manifesta-se, entre outras coisas, na proliferação de uma cultura que acredita na inutilidade dos mecanismos da democracia face ao poder dos partidos políticos, concebidos como uma oligarquia especializada na manipulação dos mecanismos supracitados para a satisfação dos seus interesses e para a perpetuação dos seus jogos políticos.
Perante a proliferação deste sentimento generalizado, é obrigação dos partidos políticos exibir um comportamento responsável que permita refutar estes estereótipos. Aos partidos, exige-se, nomeadamente, que recorram com parcimónia aos instrumentos que a democracia lhes proporciona, a fim de não os despojar do seu significado e importância por via da banalização.
A apresentação, nesta segunda-feira, de uma moção de censura pelo PCP não é, obviamente, condicente com este propósito. Para já, porque o PCP não tinha a menor esperança de aprovar esta moção até porque a defendeu advogando os seus dogmas costumeiros ao invés de enveredar por uma retórica supra-partidária que convencesse os socialistas. Depois, porque os marxistas da nossa praça não apresentaram qualquer argumento novo que sustentasse a sua tese, preferindo recorrer à mesma retórica que foi sucessivamente sufragada e recusada durante mais de 30 anos.
Depois de, durante mais de 30 anos, os sindicatos ligados ao PCP terem despojado as greves do seu impacto, fazendo delas parte da rotina dos portugueses, o próprio PCP está a contribuir para a banalização de um instrumento da democracia e a pervertê-lo, a fim de favorecer os seus interesses partidários de um modo populista, demagógico, eticamente errado e, espero, ineficaz.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A lição do Wisconsin

A lição do Wisconsin
19:36 por António Pedro Barreiro

Quem me conhece sabe que há muito ponho em causa o modelo de sindicalismo que vigora no mundo ocidental. Não porque questione a importância da sua criação, não porque negue a sua relevância na longa e esforçada luta pelo respeito pelos direitos laborais, mas porque duvido da legitimidade dos propósitos que, actualmente, movem os sindicatos.
A verdade é que, sempre que vejo um sindicalista de megafone em punho a papaguear os pontos programáticos que o PCP viu rejeitados nas eleições anteriores ou a procurar validar nas ruas uma agenda política que os cidadãos recusaram nas urnas, não consigo evitar interrogar-me acerca da utilidade deste modelo sindical. Cada vez mais os sindicatos se assemelham a uma oligarquia subvencionada empenhada na manipulação do sofrimento alheio, resoluta na realização de manifestações esgotadas na forma e vazias no sentido e comprometida com a perpetuação de uma luta de classes que, além de falaciosa, está cada vez mais obsoleta. Em suma, os sindicatos oferecem hoje uma triste imagem do que já foram, um conjunto de sanguessugas mais dependentes dos frutos do trabalho dos seus membros do que estes da inutilidade da sua intervenção.
Mas até a barulheira que os sindicatos fazem se está a tornar cada vez mais insuportável, à medida que os seus responsáveis se comprometem mais com a demagogia, se ancoram mais no populismo e mostram uma veemência quase esquizofrénica na recusa de qualquer solução minimamente responsável.
Foi assim em França há dois anos, quando Sarkozy, confrontado com um aumento substancial da Esperança Média de Vida, procurou aumentar em dois anos a idade da reforma e a CGT parou o país, causando prejuízos de milhões de euros, foi assim no Reino Unido, quando, no mesmo ano, Cameron procurou resolver o enorme buraco nas contas públicas legado pelo executivo trabalhista através de uma reforma das propinas universitárias, tem sido assim na Grécia, onde a inflexibilidade dos sindicatos tem travado as medidas de austeridade e condenado o país à ruína.
Também no Wisconsin, o Governador Scott Walker, empossado em Janeiro do ano passado, viu as suas políticas de combate ao défice ferozmente combatidas pelos sindicatos da Função Pública que, por meio de greves, manifestações e uma ocupação do Congresso estadual, conseguiram destituir Walker e impor uma nova eleição.
Scott Walker, reeleito Governador do Wisconsin no passado 5 de Junho.
Aparentemente, os sindicatos do mundo ocidental comungam de uma peculiar concepção de democracia, na qual é legítimo procurar travar nas ruas reformas aprovadas nas urnas e, em limite, destituir governantes eleitos pelos cidadãos. No Wisconsin, há três dias, os cidadãos mostraram aos sindicatos qual é a sua concepção de democracia, ao reelegerem Scott Walker com uma margem  superior em 200,000 votos àquela com que o Governador foi eleito no ano passado. É tempo de os Portugueses aprenderem a lição do Wisconsin, rejeitarem a chantagem e a irresponsabilidade populista dos sindicatos e tomarem nas suas mãos  o poder de decisão sobre o seu futuro.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Patriotismo de Circunstância

Patriotismo de Circunstância
20:19 por António Pedro Barreiro

Durante a maior parte das suas vidas, os portugueses estão envolvidos numa aguerrida cruzada contra tudo o que os lembre de que são portugueses. Na música, na literatura, na gastronomia, na política, na religião e, sobretudo, nas tradições, os outros têm sempre mais e melhor do que nós. Porém, a aproximação de uma competição desportiva constitui, normalmente, o pretexto para um breve interregno neste constante contenda.
Este ano, não é excepção. Com a chegada do Euro 2012, o deleite perante a perspectiva de mais uma competição desportiva tem levado os portugueses a desdobrar-se em reiteradas manifestações de um precário, mas nem por isso menos histérico orgulho nacional. O mais recente episódio desta demência colectiva que, periodicamente, contagia os portugueses foi o anúncio de que a iniciativa Corre Portugal já tem mais de 22.000 inscrições.

Como Patriota nato e Português orgulhoso, tenho uma aversão natural a esta transformação do patriotismo numa patologia colectiva que, periodicamente, acomete sobre os portugueses em geral, causando epidemias de histeria e surtos de insânia. Talvez por isso seja imune a esta estirpe do vírus do patriotismo. Em contrapartida, fui afectado por uma estirpe que, bem mais forte e bem mais coerente, não me permite confundir uma Nação com nove séculos de História com uma equipa de onze jogadores.
De resto, as corridas e a histeria colectiva são o menos grave. O mais preocupante é que apenas o desporto parece ter esta capacidade de galvanizar e entusiasmar o povo português. Talvez por isso, tantos portugueses parecem considerar o apoio inequívoco e, de preferência, bem audível à Selecção como uma evidência de patriotismo consideravelmente mais importante do que o exercício do direito de voto ou o voluntariado. E, enquanto continuarmos a preferir esta versão distorcida do patriotismo ao verdadeiro orgulho pátrio, não iremos muito longe...