quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Eleições Israelitas - algumas notas

Eleições Israelitas - algumas notas
00:00 por António Pedro Barreiro

Algumas considerações sobre os resultados das primeiras sondagens à boca da urna em Israel:
  1. O grande vencedor da noite é Benjamin Netanyahu. Para já, porque todas as sondagens antecipam, ainda que com uma folga variável, uma maioria absoluta à Direita. Depois, porque, se é verdade que a coligação Likud-Yisrael Beiteinu alcançou menos lugares no Knesset do que os dois partidos tinham logrado em 2009 quando concorriam separados, também o é que, em 2009, Netanyahu partia para o Governo liderando apenas um desses partidos - cuja representação parlamentar não lhe permitia sequer controlar metade da bancada da maioria - e que, hoje, o faz à frente de um bloco que congrega ambos. Os 31 deputados do bloco Likud-Yisrael Beiteinu são, pois, mais do que a marca de uma derrota pessoal, a garantia de que Netanyahu terá ainda maior margem de manobra durante o seu próximo mandato.

  2. Depois da estrondosa derrota eleitoral que sofreu em 2009, o Avoda prometia ocupar o espaço político do decadente Kadima e sagrar-se como líder da oposição a Netanyahu. Numa tirada particularmente ousada e, a meu ver, particularmente arrogante, Shelly Yachimovich chegou mesmo a sugerir que o seu partido poderia vencer as eleições e liderar o próximo Governo. O terceiro lugar e os 17 deputados que as sondagens são unânimes em conceder aos trabalhistas constituem, portanto, uma acutilante evidência da macrocefalia dos devaneios de Yachimovich e da incapacidade de o seu partido conquistar a simpatia popular e aspirar a qualquer controlo sobre a oposição. Yachimovich criou expectativas demasiado elevadas que tornam o crescimento do seu partido num resultado incipiente e que fazem do que poderia ser encarado como uma subida per se uma estrondosa derrota.

  3. O crescimento exponencial do Bayit Yehudi, um partido especialmente popular entre os jovens, demonstra que a agenda sionista continua viva e que o desejo por fronteiras defensáveis continua a apaixonar os Israelitas. Naftali Bennett centrou a sua campanha na defesa da anexação da Zona C da Cisjordânia (Judeia e Samaria), nos termos do Tratado de Oslo - que pede que a ocupação daquela zona seja feita de forma equilibrada por Palestinianos e Israelitas simultaneamente - e respondendo à dinâmica demográfica da área, onde habitam oito vezes mais Judeus do que Palestinianos.

  4. A direita religiosa do Shas e do Yahadut Torah Meukhedet mantém sensivelmente o número de deputados que tinha, ainda que a população Ortodoxa tenha aumentado desde 2009. Por seu turno, o Yesh Atid, que fez do secularismo uma das suas principais bandeiras, atinge um impressionante segundo lugar e consegue ocupar o espaço político do Kadima. Este resultado é o reflexo de uma tendência crescentemente secular que grassa na sociedade Israelita, mas também a expressão de um descontentamento cada vez maior com algumas benesses que o Estado de Israel devota à população Ortodoxa, benesses essas que, de resto, o Yisrael Beiteinu gostaria de ver, pelo menos parcialmente, repelidas. Yar Lapid, líder do Yesh Atid, mostrou-se, durante a campanha, disponível para ingressar na coligação governamental, desde que esta se comprometa a repelir a isenção de serviço militar obrigatório a que os ultra-Ortodoxos têm direito. Uma vez que esta medida nunca recolherá o apoio do Shas ou do Yahadut Torah Meukhedet, a sua adopção inviabilizaria à partida a participação destes dois partidos no Governo. Será, portanto, interessante analisar os parceiros de coligação com que Netanyahu se irá comprometer. Um acordo com a direita religiosa incutiria contornos mais radicais à forma como o futuro Governo lidará com os Palestinianos e o Irão. Contudo, um acordo com Lapid permitir-lhe-ia avançar com uma reforma adiada há tempo demais, ao mesmo tempo que garantiria que o Governo é sustentado por uma maioria mais ampla, mais estável e mais abrangente.
Benjamin Netanyahu foi reeleito Primeiro-Ministro de Israel

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

67º lugar

67º lugar
17:41 por António Pedro Barreiro

A Heritage Foundation põe Portugal num distante 67º lugar no seu reputado Índice de Liberdade Económica. É esta a marca da intervenção imprestável de um Estado cujas proporções orwellianas explicam a espiral de despesismo e endividamento que agrilhoa as gerações futuras. Esta é a marca de um Estado que se desdobra em tentativas de coação em vez de deixar florescer a livre interacção entre indivíduos. Esta é a marca de um Estado que regula, mas não se sabe regular, que controla, mas não se sabe controlar, que põe em causa o futuro dos cidadãos, mas nunca põe em causa a vasta panóplia de inutilidades em que se especializou. Mas esta é, sobretudo, a marca de cidadãos que o não são, a marca de um povo que vende o seu voto em troca da perpetuação da subsidio-dependência ou da construção de mais elefantes brancos pelo Poder Local, a marca de uma sociedade devotada à crítica fácil, mas avessa às reformas difíceis.
67º lugar. Aqui estamos e aqui continuaremos. Até que tenhamos coragem para ousar a Liberdade.