Aparentemente, assinalou-se ontem o primeiro aniversário da tomada de posse de António José Seguro como líder do PS. Como não podia deixar de ser, a comemoração desta data foi um pretexto para que Seguro brindasse as hostes socialistas com mais uma exposição da sua peculiar concepção de austeridade inteligente. Desta vez, sob a forma de uma carta enviada aos militantes, o líder socialista traçou uma vez mais os contornos do que seria uma governação socialista. Se o PS estivesse no Governo, diz Seguro, a austeridade seria aplicada com tempo e com brandura. Se o PS estivesse no Governo, diz Seguro, Portugal teria governantes capazes de compreender que a austeridade é inimiga do crescimento. Se o PS estivesse no Governo, diz Seguro, seria mesmo possível honrar os compromissos internacionais do nosso País e, simultaneamente, não fazer sacrifícios e não cumprir o memorando.
Para além da óbvia componente humorística, os vaticínios utópicos de Seguro parecem-me perigosamente similares às promessas de Sócrates e que, apesar de baratas, acabaram por custar muito caro ao País: Sócrates deixou Portugal com um crescimento económico negativo de quase 2%, um desemprego de quase 11%, uma dívida que, superior ao PIB, consome toda a riqueza produzida no nosso País e, naturalmente, um memorando que preconiza cortes extremamente violentos de que o PS, fiel à sua tradição de incoerência, agora se distancia com assinalável repugnância.
Estou certo de que os discursos de Seguro não conquistariam mais do que a complacência de um sorriso condescendente se constituíssem um caso isolado entre os socialistas europeus. Porém, afastada do poder em praticamente toda a Europa, a família socialista está sedenta de a ele regressar. E, por isso, tem exibido a mesma demagogia barata, as mesmas promessas vãs e, naturalmente, a mesma memória selectiva que Seguro tem demonstrado no nosso País. 
A verdade é que não foi só Sócrates que se desdobrou em promessas gratuitas e deixou um País mais pobre para a Direita recuperar. Por toda a Europa, os últimos líderes socialistas a assumir o poder legaram heranças pesadas que coube à Direita solucionar e que, naturalmente, os seus sucessores políticos rapidamente esqueceram. Em França, Mitterrand abrandou o crescimento do PIB em 3,9%, aumentou a dívida pública em quase 34% e deixou uma taxa de desemprego com dois dígitos. Coube a Chirac e ao pouco popular Sarkozy fazer as reformas necessárias para recuperar do descalabro de Mitterrand. E, após 15 anos de políticas que qualquer responsável socialista afirmaria conduzirem inevitavelmente à recessão, nem a crise internacional conseguiu fazer o desemprego francês regressar aos dois dígitos de Mitterrand. Na Alemanha, o socialista Gerhard Schröder aumentou o desemprego de 10,5% para 11,7% e deixou a Alemanha a crescer menos de 1% ao ano. Coube, pois, à tão odiada Merkel e às suas políticas, as tais que os socialistas europeus afirmam levar à recessão, reduzir o desemprego para o mínimo histórico de 4,7% e conduzir a economia alemã a um crescimento anual de 3,5%. Também no Reino Unido, a pesada herança de Blair e Brown trouxe um crescimento negativo de 0,5% do PIB, situação que Cameron conseguiu inverter, levando a que, no terceiro quartil do ano passado, a economia britânica tivesse crescido 0,6%.
Foi também assim na Espanha de Zapatero, em que o desemprego aumentou 11,5% e a dívida pública 10,2% e, claro, foi assim no Portugal de Sócrates. E agora, cabe aos governos de Direita a ingrata, hercúlea e impopular tarefa de recuperar estas economias e restaurar a credibilidade destes Países, naturalmente, à revelia dos herdeiros dos culpados da crise que, indiferentes ao colapso que os seus predecessores causaram, hão-de continuar a clamar por gastos insustentáveis e a fazer promessas irrealistas, a fim de potenciarem o único crescimento que lhes interessa, o dos seus resultados eleitorais.