Durante a maior parte das suas vidas, os portugueses estão envolvidos numa aguerrida cruzada contra tudo o que os lembre de que são portugueses. Na música, na literatura, na gastronomia, na política, na religião e, sobretudo, nas tradições, os outros têm sempre mais e melhor do que nós. Porém, a aproximação de uma competição desportiva constitui, normalmente, o pretexto para um breve interregno neste constante contenda.
Este ano, não é excepção. Com a chegada do Euro 2012, o deleite perante a perspectiva de mais uma competição desportiva tem levado os portugueses a desdobrar-se em reiteradas manifestações de um precário, mas nem por isso menos histérico orgulho nacional. O mais recente episódio desta demência colectiva que, periodicamente, contagia os portugueses foi o anúncio de que a iniciativa Corre Portugal já tem mais de 22.000 inscrições.

Como Patriota nato e Português orgulhoso, tenho uma aversão natural a esta transformação do patriotismo numa patologia colectiva que, periodicamente, acomete sobre os portugueses em geral, causando epidemias de histeria e surtos de insânia. Talvez por isso seja imune a esta estirpe do vírus do patriotismo. Em contrapartida, fui afectado por uma estirpe que, bem mais forte e bem mais coerente, não me permite confundir uma Nação com nove séculos de História com uma equipa de onze jogadores.
De resto, as corridas e a histeria colectiva são o menos grave. O mais preocupante é que apenas o desporto parece ter esta capacidade de galvanizar e entusiasmar o povo português. Talvez por isso, tantos portugueses parecem considerar o apoio inequívoco e, de preferência, bem audível à Selecção como uma evidência de patriotismo consideravelmente mais importante do que o exercício do direito de voto ou o voluntariado. E, enquanto continuarmos a preferir esta versão distorcida do patriotismo ao verdadeiro orgulho pátrio, não iremos muito longe...